2021-11-05

CNA visita produtores na zona de Setúbal e ouve as suas preocupações

No âmbito do projecto “Contributos da Agricultura Familiar para a promoção de sistemas alimentares e dietas sustentáveis em Portugal” no qual a CNA participa, juntamente com a ACTUAR (Associação para a Cooperação e Desenvolvimento), a Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) e a Escola Superior Agrária de Viseu realizou-se, no dia 3 de Novembro, diversas visitas de campo a produtores familiares da região de Setúbal.

As visitas tiveram como objectivo a identificação e análise de boas práticas da Agricultura Familiar em Portugal e entender as dificuldades pelas quais atravessa hoje a Agricultura Familiar em Portugal.

A primeira paragem foi numa exploração de ovinos de leite de uma produtora de 58 anos e do seu pai de 85, na zona de Pegões, onde ficou bem patente a dura realidade e as consequências que a pandemia de COVID-19 causou no sector agrícola e pecuário.

Esta exploração de ovinos de leite tinha como principais clientes algumas queijarias da região e meses antes da pandemia tinha investido 20 mil euros em equipamentos e instalações para uma nova sala de ordenha. Com tudo quase parado, em virtude da pandemia, viram os seus compradores a reduzir drasticamente as quantidades de leite adquirido.

Com prejuízos a acumularem-se estes produtores viram-se obrigados a reconverter a exploração para ovinos de carne.

Actualmente, numa área com mais de 60 hectares arrendados, esta família possui já 400 ovelhas para produção de borregos esperando que os próximos meses, e nomeadamente com a aproximação do Natal, possam ser marcados por uma afirmação do projecto de reconversão e por um retorno financeiro positivo da actividade da exploração.

A segunda paragem foi no Poceirão, onde se visitou uma quinta com 7 hectares, onde a principal produção é de pêssegos, nectarinas e ameixas em modo de produção biológico.

Esta exploração, propriedade de uma família de jovens agricultores instalados há cerca de 3 anos, detém uma curiosidade é que as galinhas e gansos são os grandes aliados na limpeza do terreno, onde andam livremente. Nesta exploração foram dados diferentes exemplos de como é possível produzir alimentos de qualidade, respeitando a natureza. Os modelos demasiado químicos e industrializados não são bem-vindos nesta quinta.  

Já da parte da tarde, decorreu a visita a um secador de arroz de uma organização de pequenos produtores em modo de produção integrada e onde foi observado o processo de secagem e dada a conhecer a importância desta infraestrutura para a viabilidade económica de cerca de 60 pequenos e médios produtores da região.

Foi dado ainda conta do trabalho desta organização de produtores no aconselhamento técnico dos seus produtores, nomeadamente na redução do consumo de água por ha e na redução do consumo de pesticidas.

Por fim, houve ainda a oportunidade de assistir à colheita de arroz e conversar com dois produtores familiares, pai e filho, cada um com a sua exploração constituída por terrenos arrendados e onde a maior preocupação actual reside no aumento dos preços dos combustíveis, visto que se gasta em média 20 litros de gasóleo por hora ao debulhar o arroz, o que faz aumentar muito os custos dos factores de produção, não havendo grandes perspectivas de poder fazer repercutir o mesmo no preço do arroz na produção.

Estas visitas, apesar de serem em sectores distintos, possuem em comum a preocupação com a saúde e com o ambiente. O respeito à terra e aos animais é algo que é valorizado em cada produção visitada. Exemplos de como a Agricultura Familiar é o caminho mais sustentável e harmonioso.

Esta acção integra um projecto no contexto de uma iniciativa comunitária promovida pelo PDR2020 e co-financiada pelo FEADER, no âmbito do Portugal 2020.