2020-05-28
Comunicado de imprensa CEVC
Bruxelas, 27 de Maio de 2020
A Coordenadora Europeia Via Campesina (CEVC) apela a uma revisão da actual reforma da PAC para responder aos novos cenários sociais, económicos, políticos e ambientais e para responder às necessidades dos agricultores e dos cidadãos europeus.
Na próxima semana, completar-se-ão dois anos desde a apresentação da proposta da Comissão Europeia para a reforma da PAC.. Para a CEVC, é urgente rever esta proposta, dado que a actual reforma não reflecte as novas realidades da sociedade, a pandemia da COVID-19, a preocupação crescente com os problemas ambientais que levaram à criação do Pacto Verde e a estratégia "do prado ao prato". Esta exigência é ainda mais importante, uma vez que a actual proposta de reforma só seria implementada daqui a dois anos, juntamente com a incerteza e a incoerência de não ter o novo orçamento da PAC aprovado neste momento e com as novas propostas económicas hoje apresentadas pela Comissão Europeia. Por conseguinte, a CEVC sublinha que, na revisão da reforma, as instituições devem garantir o tempo e a estabilidade necessários para os agricultores. Tudo isto através de um regulamento de transição adequado que mantenha a ajuda actual.
No contexto actual, a importância dos pequenos e médios agricultores e dos trabalhadores rurais é cada vez mais evidente. A crise da COVID-19 veio pôr em evidência a grande fragilidade do sistema. O mundo inteiro assistiu às graves consequências e riscos gerados pela globalização e pelas políticas neoliberais, incluindo a escassez de materiais sanitários básicos, causada pela deslocalização da produção, a externalização dos custos de produção e a elevada dependência das cadeias de produção globalizadas. Existe uma percepção clara da fragilidade da UE e das grandes dificuldades em dar uma resposta coordenada em matéria de saúde, económica e social a esta crise para toda a UE.
Por conseguinte, não faz sentido manter um calendário de reformas como se a situação fosse a mesma que vivemos há dois anos. A actual proposta da PAC não tem em conta a situação, as novas exigências decorrentes da crise da COVID-19, a proposta sobre o Pacto Verde Europeu nem a estratégia "do prado ao prato".
A agricultura e a alimentação na Europa não devem depender e estar subordinadas aos sistemas alimentares globalizados impostos pelos acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC) e pelos acordos de livre comércio. O risco de esta crise sanitária - ou qualquer crise futura - ser agravada por uma crise alimentar não pode ser aceite. Este é o caminho que está a ser seguido na UE, um caminho em que a produção alimentar está a ser deslocalizada para se tornar uma mercadoria e não um direito básico para toda a população.
A Europa externaliza para muitas partes do mundo os custos de alimentos baratos e pouco saudáveis, com graves consequências ambientais e sociais. Isto também tem impacto na UE, uma vez que cria concorrência social, sanitária e ambiental ou dumping em relação aos agricultores da UE. Além disso, conduzem ao desenvolvimento da agricultura industrial e à perda de milhões de pequenos e médios agricultores, que são os garantes da segurança, da soberania alimentar e da vida nas zonas rurais.
A actual reforma da PAC, apresentada há dois anos, enfraquece uma política agrícola e alimentar forte na UE. Também não é capaz de cumprir nem os objectivos originais da PAC, nem os nove objectivos identificados na nova proposta. Para os alcançar, são necessárias políticas coerentes em todos os domínios da UE: economia, comércio, agricultura e alimentação, ambiente e políticas sociais. No entanto, quando a proposta foi elaborada, o Pacto Verde e a estratégia "do prado ao prato" não existiam, e muito menos se reflectem no seu conteúdo.
A CEVC exige medidas claras e concretas no âmbito da revisão da reforma da PAC. Aqui, pode ler todas as exigências sobre a forma de integrar os pequenos e médios agricultores na PAC: