2020-04-17

"Feira do Queijo DOP" - real - com alguns números do "negócio"

Por João Dinis

São à partida bem-vindas iniciativas que ajudem ao escoamento de bens agro-alimentares, a preços minimamente razoáveis na produção e sem especulação com os preços no consumidor. Sim, é necessário promover a compra e a venda desses bens agro-alimentares de preferência próximo do produtor e do consumidor.

Foi recentemente anunciada e divulgada com “ruído”, pompa e circunstância, (“online”, a partir de uma queijaria no concelho de Oliveira do Hospital) a “Feira do Queijo DOP” - que é mais uma feira “online”, pela NET.

Esta “Feira do Queijo DOP”, é uma iniciativa anunciada pela CIM, Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra. Foi inaugurada (a 15 de Abril) com a vinda a Oliveira do Hospital da Ministra da Agricultura em pessoa (“física”). Sim, isso também significa propaganda quanto baste…

Resulta, esta feira “online”, de uma parceria em que também entram duas grandes empresas – a DOTT/ uma plataforma informática ligada à SONAE  e  aos  CTT. Com tais “parceiros” esta feira acaba por ter interesse encurtado para os Produtores de Lacticínios enquanto faz encarecer, e bastante, no consumidor, um produto específico – no caso, o Queijo Serra da Estrela. 

 

O Preço do quilo do Queijo Serra da Estrela encarece mais de 25% no comprador após as margens que a tal DOTT e os CTT aplicam ao “negócio” para proveito próprio, pois claro…  E, pelo meio, também sai o IVA (6%) para o Orçamento do Estado.

Vamos por partes:

Ao que se constata, os CTT cobram (ao comprador) 3,99 euros (transporte) por quilo de queijo Serra da Estrela em cada encomenda “online”. A tal plataforma “online” - a DOTT - cobra 3% sobre o valor do queijo a pagar pelo consumidor. E é logo tudo pago “on line”, à DOTT, no acto da encomenda.

Mas, fazendo nós as contas, se um produtor de Queijo da Serra da Estrela fizer o seu preço de venda ao seu produto numa base real de praticamente 18 euros o quilo, cada quilo desse mesmo queijo vai custar praticamente 22,50 euros Kg no consumidor. Ou seja, para os CTT vão 3,99 euros por quilo e para a DOTT caem 0, 55 euros/kg o que representa um aumento real de mais de 25% sobre o preço do Produtor. Ora, isto também equivale a dizermos que, tendo em conta o preço ao Produtor e o preço que se paga no acto da encomenda (“on-line” à DOTT), os CTT e a plataforma “papam” 250 gramas por quilo de queijo, sendo que os CTT “papam” sete vezes mais que a plataforma. É  muito!

Ou seja ainda, estas grandes empresas têm aqui (mais) um bom negócio e, depois, vêm para cá armar-se em “instituições de caridade” no caso muito preocupadas com os Produtores Pecuários e queijeiros. Tretas…

 

Câmaras Municipais que façam por reabrir as feiras e mercados tradicionais.

Enfim, a CIM da Região de Coimbra pôs-se a “inventar” uma feira “online” mas enquanto várias das Câmaras Municipais mantêm encerrados os seus Mercados e Feiras mais tradicionais.  

Na verdade, uma coisa não se substitui à outra ou seja, são precisas as feiras “on line” mas ainda mais precisos são os mercados e as feiras tradicionais que, apesar do “estado de emergência”, podem permanecer abertos para bens agro-alimentares, embora com alguns cuidados sanitários acrescidos. 

 

Pois que a CIM (ou as suas Câmaras envolvidas) pague(m) os custos cobrados pelos CTT

Ou que faça(m) com que os CTT reduzam a taxa que agora cobram (os tais 3,99 euros/Kg).

Bom, para que não sejamos mal interpretados, reafirma-se que os Produtores que possam aceder a esta Feira “on line” pois que o façam e que, por aí, vendam o seu queijo.  Já agora, que a CIM e os outros dois parceiros nesta feira “online” alarguem o seu âmbito ao queijo de Cabra, ao Queijo de Ovelha Curado, também ao Mel e aos Enchidos.

E que a CIM da Região de Coimbra ou as suas Câmara envolvidas, aceitem pagar os custos cobrados pelos CTT… Ou que consigam desta empresa uma (grande) redução da taxa (os 3,99 euros por Kg) que estão a praticar o que, aliás, nos parece justo até eticamente.

E, sobretudo até, repete-se, que reabram aos Mercados e Feiras tradicionais.  Ganhavam ainda mais os Produtores de Lacticínios, de Enchidos, de Mel, e de outros bens agro-alimentares, e ganhavam os Consumidores. Por exemplo, poder-se-ia comprar Queijo da Serra da Estela abaixo dos 18 euros por Kg. Ou seja, mais queijo se venderia também… E menos “explorados” pelo serviço “online” seriam os Consumidores…